dormir com os anjos
Diz o povo que os animais adormecem por baixo das burgmansias, que também são conhecidas como trombetas ou trombetas-de-anjo, por causa do perfume que exalam, sobretudo à noite. Para os seres humanos pode ser perigoso ou mesmo mortal.
Apesar disso, não deixam de ser uma belíssima visão, quando se passa por elas, com as suas atraentes flores brancas que parecem murmurar segredos entre si.
As "Sleepy Flowers" são parte de um projecto iniciado para decorar um quarto e que vai ter evolução. Sonolenta ou não.
uma centena de anos e de histórias
Se ainda estivesse entre nós, o meu pai faria hoje cem anos. Um século parece muita coisa mas apesar do tanto que acontece nesse espaço de tempo, não é nada. Passa num instante e somos sempre surpreendidos pela efemeridade de todas as coisas.
Hoje, apesar de tudo o que nos deixou, a mim e às minhas irmãs, continua a somar histórias nas nossas lembranças. Quando falamos nele e recontamos alguma coisa passada com ele, ou reutilizamos a sua experiência no dia-a-dia para encararmos e resolvermos os pequenos e grandes desafios da vida. Nessas alturas ligamos as nossas histórias às dele e acrescentamos-lhes alguns pontos, como se faz quando contamos um conto. As novas versões são sempre enriquecidas, como se as experiências dele e as nossas fossem sempre renovadas, recicladas e transformadas. Sem limites senão os da expansão. Nada se perde.
Escolhi esta imagem porque me lembro sempre que uma das suas actividades favoritas era fotografar e as flores eram recorrentemente apanhadas pela sua lente e depois reproduzidas em slides projectados nas tertúlias familiares depois do jantar. A par dos filmes Super 8 da Kodak dos anos sessenta do século XX.
Eram flores a sua oferta favorita para a minha mãe nos seus dias especiais. Nos outros ela também cultivava o gsto por as plantar e cuidar enquanto cresciam.
O azul do fundo da imagem é uma homengem ao F. C. do Porto, que seguia discretamente pela televisão, por que na família havia, pelo menos, mais dois clubes venerados. Já as folhas são numerosas e diversificadas como a família e as suas histórias.
E na vida nada mais se passa de maior valor que os contos e pontos e o intrincado mapa de todos que só se complica ou fortalece ao longo dos anos. Portanto, parabéns, parabéns, parabéns, pelos cem anos que nunca foram de solidão e deixaram uma saudade sem medida.